quinta-feira, novembro 01, 2007

Gato Fedorento oem Belém?

Nos EUA, há um comediante candidato à Casa Branca. E cá? Seria possível?

Stephen Colbert é um dos comediantes mais conhecidos nos EUA. Num dos seus últimos programas, deixou os telespectadores suspensos entre a ficção e a realidade, ao anunciar que pretende concorrer à presidência norte-americana. O humorista não confirma nem desmente se a sua personagem vai mesmo estar na corrida à Casa Branca. Mas já tem especialistas no terreno. Num exercício de curiosidade, o PortugalDiário quis saber se os Gato Fedorento seriam capazes de se aventurar a Belém.

Miguel Góis, um dos quatro Gatos que animam as noites de domingo do canal 1 da RTP, não se espanta com o a iniciativa de Colbert. «Acho que nos EUA é normal. Depois do [presidente Ronald] Reagan e do [governador da Califórnia Arnold] Schwarzenegger, até é uma candidatura bastante credível», disse o humorista ao PortugalDiário.

E os Gato Fedorento seriam capazes de fazer o mesmo em Portugal? «Em relação a nós fazermos isso, eu, pessoalmente, não gostava, porque estou com o peso ideal e se o fizesse era natural que engordasse. Isso acontece com todos os que entram para a política e era desagradável, porque estou bem como estou», gracejou Góis, dizendo que «não é algo que esteja nos planos» do quarteto. Pelo menos para já.

Sem abrir a porta à possibilidade, deixou perceber, porém, que o edifício das imprevisibilidades humorísticas tem muitas janelas, e algumas podem abrir-se. «É possível que um dia a gente faça isso. Pode ser muito engraçado e ao mesmo tempo muito interessante do ponto vista político e humorístico. Não está nos nossos planos, mas não coloco isso fora de hipótese».

Já José Diogo Quintela mostrou-se mais céptico, quer em relação ao peso ideal do seu colega, «tem um corpo ridículo, deveria ter mais seis ou sete quilos de músculo», quer relativamente a uma eventual candidatura a Belém, que admite que «até poderia ter» potencial humorístico, recordando que «algo de semelhante já foi feito por Manuel João Vieira». «Acho que o mais alto cargo da nação devia estar vedado a palermas como nós. Deveria haver uma adenda à constituição, além da imposição dos 35 anos», voltou a gracejar.

«Humor como arma política»

Políticos ou não, o tema é recorrente nos sktechs do Gato Fedorento. A caricatura de Marcelo Rebelo de Sousa durante a campanha do referendo ao aborto, o cartaz na Rotunda do Marquês, satirizando outro do PNR, ou o cenário da Assembleia da República como palco de uma discussão protagonizada por parlamentares ornamentados com uma bola vermelha no nariz, são algumas das rábulas que fazem parte do seu currículo.

Miguel Góis realçou que «por se ser humorista não quer dizer que não se tenha intenções sérias em relação a outras matérias», admitindo que por vezes os políticos sentem-se intimidados por estas intromissões, como é o caso dos elementos democratas e republicanos, nos EUA, que acolheram com desagrado a possibilidade da intenção de Colbert poder ser mais do que uma simples brincadeira televisiva.

«Quando foi o Schwarzenegger ninguém se sentiu intimidado. O facto de ser um humorista intimida os políticos, na medida em que traz para a arena política um elemento que não estava presente que é a possibilidade de satirizar o adversário e usar o humor como arma politica», disse.

Quintela, por outro lado, enquadrou de forma mais apertada a repercussão política dos seus sketchs. «São intervenções humorísticas, se têm repercussões políticas, não é o objectivo delas».

E se ainda não existe qualquer cargo político «vedado a palermas», há algo que Miguel Góis confessa em nome do grupo: «É muito mais confortável para nós estarmos do lado de fora a satirizar do que passar para o lado de lá. Deve ser complicado estar do lado de lá. Nós gostamos de coisas bem fáceis».

in: Portugal Diário (http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=873633&div_id=291)

Sem comentários: